A Semana Santa é um dos períodos mais intensos do calendário litúrgico da Igreja Católica. É tempo de recolhimento, oração e penitência. A Sexta-Feira Santa, em especial, convida todos os fiéis a reviver o mistério da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse dia, muitas perguntas ressurgem entre os católicos, e uma delas é antiga: é pecado comer carne na Sexta-Feira Santa?
A resposta, segundo a doutrina da Igreja e o Catecismo da Igreja Católica, é clara: sim, é pecado comer carne na Sexta-Feira Santa, pois este é um dia de jejum e abstinência obrigatórios. Mas para compreender essa prática, é preciso mergulhar mais fundo na sua origem, no sentido espiritual e nas normas que a sustentam.

A origem da penitência e a abstinência de carne
Desde os primeiros séculos do cristianismo, os discípulos de Cristo entenderam que seguir o Senhor envolvia também participar de Sua cruz. Jesus disse:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”
(Mt 16,24)
A abstinência de carne nasceu desse espírito penitencial. A carne, na cultura antiga, era símbolo de festa e abundância. Evitá-la significava renunciar a algo bom em sinal de amor e arrependimento pelos pecados. Com o tempo, a Igreja transformou essa renúncia em um ato comunitário de fé e penitência, especialmente nas sextas-feiras, dia em que Cristo foi crucificado.
O que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre “É pecado comer carne”
O Catecismo da Igreja Católica, nos números §2043 e §1438, ensina que o jejum e a abstinência são meios concretos de penitência:
“Os dias e tempos de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da Quaresma, e todas as sextas-feiras, em memória da morte do Senhor) são tempos fortes da prática penitencial da Igreja. Estes tempos são particularmente apropriados para exercícios espirituais, liturgias penitenciais, peregrinações, abstenção voluntária de certos alimentos, obras de caridade e missionárias.”
(CIC §1438)
Portanto, abster-se de carne na Sexta-Feira Santa não é um costume popular, mas uma disciplina espiritual profundamente enraizada na tradição da Igreja e confirmada pelo Magistério.
O que diz o Código de Direito Canônico
O Código de Direito Canônico, no Cân. 1251, determina:
“Abstinência de carne, ou de outro alimento determinado pela Conferência Episcopal, deve ser observada em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com uma solenidade; a abstinência e o jejum devem ser observados na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Ou seja, a Sexta-Feira Santa é um dos dois dias de jejum e abstinência obrigatórios para todos os católicos maiores de idade e menores de 60 anos, conforme a disciplina da Igreja. Essa norma não é opcional nem cultural: ela é parte do preceito eclesiástico que orienta a vida cristã durante a Quaresma e a Semana Santa.
Jejum e abstinência: qual a diferença?
A Igreja distingue jejum de abstinência:
- Jejum: consiste em fazer apenas uma refeição completa ao dia, permitindo duas pequenas porções de alimento, sem exageros.
- Abstinência: significa não comer carne de animais de sangue quente (bovinos, suínos, aves). Peixes e frutos do mar são permitidos, pois simbolizam alimento simples e penitencial.
Portanto, na Sexta-Feira Santa, os católicos devem jejuar e se abster de carne, como gesto concreto de conversão e unidade com o sacrifício de Cristo.
A força espiritual do sacrifício
Mais do que uma norma, a abstinência é um gesto de amor. Ela recorda que o cristão deve colocar Deus acima dos prazeres e confortos do mundo. São Leão Magno, Papa do século V, disse:
“A abstinência nos faz vencer as tentações, reprime os maus desejos e prepara o espírito para acolher a graça.”
Ao renunciar à carne na Sexta-Feira Santa, o fiel une-se espiritualmente à Paixão de Cristo. É um ato de gratidão, humildade e compaixão. O sacrifício que parece pequeno adquire valor infinito quando feito com coração contrito.
É pecado comer carne na Sexta-Feira Santa?
Sim, é pecado se houver consciência e vontade de desobedecer à Igreja.
O Catecismo (§1857-§1859) explica que, para um pecado ser mortal, é preciso:
- Matéria grave;
- Pleno conhecimento;
- Consentimento deliberado.
Comer carne sabendo que é Sexta-Feira Santa, consciente da gravidade e por pura negligência ou desprezo pela norma da Igreja, constitui pecado grave.
Mas, se houver ignorância sincera, esquecimento ou impossibilidade legítima (como doença, gravidez, idade avançada), a culpa é atenuada ou inexistente.
O sentido da penitência segundo a Igreja
A penitência cristã não é castigo, mas expressão de amor. O Catecismo ensina:
“A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. O jejum e a abstinência são expressões privilegiadas dessa conversão.”
(CIC §1434)
O verdadeiro sentido do jejum e da abstinência é aproximar o coração de Cristo. Não se trata apenas de evitar carne, mas de converter o coração. Por isso, é recomendável que, junto da abstinência, o fiel pratique obras de caridade e oração.
A abstinência em outras sextas-feiras do ano
O Cân. 1250 lembra que todas as sextas-feiras do ano são dias penitenciais, exceto quando coincidem com uma solenidade litúrgica. A CNBB, no Brasil, orienta que, fora da Quaresma, o fiel pode substituir a abstinência por outro ato penitencial — como orações, esmolas ou gestos concretos de amor ao próximo.
Durante a Quaresma, contudo, a abstinência é obrigatória. Na Sexta-Feira Santa, essa obrigação é universal e não pode ser substituída.
A importância da obediência e do exemplo cristão
Cumprir a abstinência não é apenas um ato pessoal de penitência, mas também testemunho público de fé. Num mundo que valoriza o prazer e o consumo, o cristão que renuncia a algo em nome de Cristo evangeliza silenciosamente.
Jesus mesmo jejuou no deserto por quarenta dias e nos deixou o exemplo. Ele disse:
“Quando jejuardes, não mostreis um ar triste como os hipócritas… Teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.”
(Mt 6,16-18)
A abstinência, portanto, é um convite à humildade e à coerência. É viver a fé não apenas em palavras, mas em atitudes concretas.
Por que a carne?
Ao longo da história, a carne sempre simbolizou alegria, celebração e fartura. Por isso, sua renúncia tem significado penitencial profundo. Na Sexta-Feira Santa, renunciar a esse alimento é dizer: “Hoje não há festa, pois o Senhor foi imolado por amor a nós.”
A renúncia à carne também tem um valor espiritual e ecológico, pois lembra que o cristão é chamado a viver com sobriedade, sem excessos, respeitando a criação.
Exemplos dos santos sobre jejum e abstinência se é pecado comer carne
Muitos santos ensinaram que o jejum e a abstinência são caminhos de santificação:
- São Francisco de Assis dizia: “A carne alimenta o corpo, mas o jejum fortalece a alma.”
- Santa Catarina de Sena via na abstinência uma forma de se unir ao sofrimento de Cristo pelos pecadores.
- São João Paulo II ensinava que a penitência corporal “purifica o coração e renova a vida espiritual”.
Esses exemplos mostram que a renúncia não é uma privação triste, mas uma escolha de amor e participação no mistério da cruz.
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Conclusão sobre É pecado comer carne — o amor que se manifesta na renúncia
A Sexta-Feira Santa é um dos dias mais sagrados do ano. Não é tempo de festas, mas de silêncio, oração e gratidão. Nesse contexto, comer carne é um ato de desobediência que contradiz o espírito de penitência que a Igreja propõe.
Mais do que uma regra, essa prática é um ato de fé e comunhão com Cristo crucificado. A verdadeira pergunta que o cristão deve fazer não é “posso comer carne?”, mas “quero estar unido ao sacrifício de Jesus?”.
Ao renunciar à carne nesse dia, o fiel diz, em silêncio:
“Senhor, hoje eu recordo Teu sacrifício, e quero unir a minha vida à Tua cruz.”
Foto: http://www.freepik.com/
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