Padre Júlio Lancellotti é referência no Brasil em defesa dos direitos humanos, e há mais de 30 anos, se dedica para assistência dos marginalizados. Ele é mártir para uns e polêmico a outros, denuncia sempre omissões e abusos do poder público, sendo destaque em jornais.
A cada dia, uma mesa de café da manhã é servida, muito cedo, pelo pátio da Igreja São Miguel Arcanjo, igreja pequena, que fica na zona leste de São Paulo, Mooca.
O Padre Júlio que tem 73 anos, à frente desta igreja é quem recepciona as pessoas com fome, e há voluntárias ajudando, a trabalhar em secretaria dessa paróquia.
E pergunta aos moradores de rua que entram ali, com mansa fala, se necessitam de algo a mais neste dia, ou seja, uma blusa, um sapato, medicamento, ou simplesmente uma bênção, que depois de conferida, com sincero abraço é contemplada e também um “vá com Deus, meu filho!”.
História de Vida do Padre
Os que conversam com Júlio nem imaginam quais são as suas raízes que levaram o mesmo a ser visto como autor da obra humanística valiosa à maioria, e anarquista a outros.
Ao lado dos carentes, Lancellotti briga sempre, a resistir aos processos de reintegração de posse, como nas manifestações de rua em relação às injustiças sociais.
Padre Julio Lancellotti fala, “Meu lema de ordenação de padre é o que está escrito na Bíblia Sagrada, no primeiro livro de Coríntios, capítulo 1, versículo 27: Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir os fortes”.
A religião encontrou Júlio que é natural do bairro Belém, centro-leste da cidade de São Paulo, não por seus pais terem rotina na igreja, mesmo sendo católicos, porém, devido a ingressar no colégio particular, na época mais fácil do que ingressar na escola pública.
O pai comerciante e sua mãe, dona de casa, foi marcada a infância dele por brincadeiras em ruas do Tatuapé, de modo mais preciso pela praça Pádua Dias, com seus irmãos, José Luiz que é caçula, e Milton, mais velho, os 2 já falecidos.
Terminou o ginásio de volta para cidade natal, na escola de padres agostinianos, Júlio Lancellotti teve muitas namoradinhas. Novamente, entrou para seminário, foi frade e terminou curso de auxiliar de enfermagem no interior de São Paulo, na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista.
Não aceitou quando tinha 19 anos o autoritarismo, rebelando-se mais uma vez, e de fato largou a batina.
Pe Julio Lancellotti Longe da Batina por Um Período
Padre Julio Lancellotti trabalhou em hospitais Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista e São José do Brás, em São Paulo, longe do sacerdócio e com diploma de auxiliar de enfermagem. Então entrou para Faculdades Oswaldo Cruz, concluindo Pedagogia.
Fez especialização, em seguida, em Orientação Educacional na PUC-SP, atuando ali como professor-assistente, sem contar ministrar aulas em faculdades Castro Alves, Oswaldo Cruz, Instituto Nossa Senhora Auxiliadora e Piratininga.
O Padre trabalhou ainda em Serviço Social de Menores, que se transformou depois em Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, e ainda em Centro de Apoio ao Imigrante, localizado no Brás, ele deu aulas para crianças que tinham dificuldade em aprender.
Conheceu no ano de 1980, Dom Luciano Mendes de Almeida, se aproximando bastante. Eles fizeram juntos fundamentação toda para Pastoral do Menor pertencente à Arquidiocese de São Paulo.
Na ocasião da visita do Papa João Paulo II, em mesmo ano, Dom Luciano questionou quando ordená-lo padre iria.
Conta que na época, ele não sabia que namorava Cecília, ficou com ela por 3 anos. Começou o estudo de Teologia, um ano após, e no ano de 1985, foi ordenado padre finalmente pelo Dom Luciano. Fala sorrindo que no dia da ordenação dele, ela foi e brava falou vários desaforos a ele, e completa que hoje são bons amigos e celebrou o casamento dela.
Padre Julio Lancellotti ganhou vários prêmios e honrarias como Prêmio Opas, Menção Honrosa do Prêmio Alceu Amoroso Lima, Prêmio Franz de Castro Holzwarth, e Título de Doutor Honoris Causa.
Pe Júlio Como Escudo dos Fracos e dos Oprimidos
O Padre Júlio Lancellotti teve participação em fundação da Pastoral da Criança, como ainda em formulação do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, de fato tem atuado de maneira forte com menores infratores, pessoas carentes e na situação de rua, detentos em liberdade assistida, adultos e crianças com HIV, refugiados e imigrantes sem teto.
Júlio fundava a Casa Vida I, em 1991, e na sequência, mais uma unidade, Casa Vida II, acolhendo tal população. É vigário episcopal há mais de 25 anos para Pastoral do Povo da Rua, liderando muitos projetos municipais.
Um exemplo é A Gente na Rua, formado pelos ex-moradores de rua, e agentes comunitários de saúde, e a cada mês, faz as missas com pessoas habitando Cracolândia. É defensor ferrenho de travestis na situação de rua.
Padre Júlio Lancellotti fala que sofreu ameaça já de muitos políticos, sendo até processado. Diz sofrer enorme pressão, e que enfrenta com coragem e fé, já que sabe que está do lado certo, de quem vai apanhar e vai perder.
Ele fala, “Sou um fracassado, pois essa é a lógica do sistema injusto e de exclusão ao qual pertencemos. Fazer sucesso é ser conivente com ele e isso eu não sou.”.
Com andar suave, mas marcante personalidade, Júlio mostra com orgulho a paróquia e sala que virou graças a ele santuário pequeno em que há imagens de santos do mundo todo. Diz que se sente humanizado, e que sente estar do lado que Jesus gostaria que ele estivesse.
Pastoral do Povo da Rua
As 2 frases pequenas lidas ao adentrar e partir da Igreja paroquial São Miguel Arcanjo que fica na Mooca, São Paulo, “Aqui se entra para adorar a Deus… daqui se sai para amar o próximo”.
Trata-se de 2 frases que representam projeto de vida, detalhando trabalho e missão de Júlio Lancellotti, que é popular por trabalho com povo da rua da cidade de São Paulo.
Ele é ainda vigário episcopal ao povo de rua da Arquidiocese de São Paulo, a trabalhar de modo incansável para oferecer maior dignidade aos irmãos que estão na situação de vulnerabilidade.
É uma alegria conhecer e ainda participar com voluntários pertencentes à Pastoral do Povo da Rua em distribuição do café da manhã, agasalhos, roupas, itens de higiene pessoal às centenas de pessoas, irmãos, que são ajudados a cada dia em núcleo de convivência São Martinho de Lima.
Experiência intensa que inicia com celebração da Eucaristia sempre, finalizando com gestos de acolhida e solidariedade fraterna.
A acolhida de irmãos na situação de rua, antes da pandemia, ocorria em espaço da paróquia, sendo a média de quantidade de 200 pessoas diariamente.
Este número triplicou com a pandemia, e pelas temperaturas baixas na cidade de julho e agosto, se tornou o núcleo de convivência São Martinho de Lima um local de fraternidade, acolhida, amor ao próximo, esperança.
Ali encontram as várias famílias, pessoas, o carinho e refúgio e um pouco de dignidade.
De fato não há como não se emocionar com maneira acolhedora e simples do Júlio Lancellotti, ele segue à frente do grupo de voluntários, usando seu avental laranja, jaleco branco, máscara respiratória rosa com filtro embutido e sandálias.
O Padre não apenas auxilia em distribuir, porém, ele orienta, coordena trabalhos, e também acolhe todos chamando pelo nome e tem um tempo sempre para quem quer dialogar ou dividir uma situação.
Júlio apenas retorna à paróquia quando é atendido o último irmão. Ao chegar na paróquia, não parará o trabalho, novamente vários atendimentos, e se preocupa com doações ao próximo dia, o atendimento nos locais em há vulnerabilidade, de exemplo a Cracolândia.
Percebe-se no dia a dia do padre que sequer a pandemia tão mortal e longa, conseguiu parar a convivência diária dele junto aos irmãos vivendo nas ruas da cidade.
Vale lembrar as palavras de São João, “No amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor. Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro”, 1 João 4, 18-20.
De fato, Deus ama cada um, e devido a esse amor, se pode amar a Deus, e ainda amar os próximos. Assim, ao reunir-se na Igreja, estão adorando a Deus e concretização desta adoração vai converter em amor aos próximos.
Ensina o Evangelho que adoração, na realidade, pressupõe amor. Ao adorar a Deus, entra na intensa relação de amor que vai envolver a alma toda do fiel de forma a poder amar a Deus inteiramente, e ainda amar aos próximos como a si.
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Telefonema do Papa Francisco
Padre Júlio recebeu uma determinada ligação, e quem estava do outro lado da linha? Uma pessoa falando em italiano, e questionando o Padre se ele falava italiano ou espanhol. Pe Júlio logo respondia que preferia falar em italiano, e então o outro se apresentava na ligação como Papa Francisco.
Este telefonema foi resposta para carta que Júlio Lancellotti enviou, 1 mês anteriormente, a relatar como estavam os moradores de rua por causa da pandemia em São Paulo.
Segundo Júlio, o Papa é bem informado, e falou que entendia as dificuldades dele, perguntou ainda como era seu dia, e Júlio respondeu que saber conviver é o mais importante. O Padre completa ainda que Papa Francisco falou que estar como Jesus é estar junto dos pobres, pedindo a Júlio para não desanimar.
Júlio contou também que Papa Francisco dirigiu mensagem carinhosa aos que moram nas ruas, “Transmita aos moradores de rua meu afeto, meu abraço e meu carinho. Rezo para eles sempre, peça para que eles rezem por mim.”.
Como fazer uma Doação ao Padre Julio Lancellotti
Para ajudar o trabalho da Paróquia de São Miguel Arcanjo, o Padre Julio Lancellotti doaçãoindica a conta e Pix no Banco Bradesco para essa doação, através do Instagram, @padrejulio.lancellotti. No Twitter, ele tem presença como @pejulio.
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