Benzedeira ou rezadeiras, assim são populares em várias regiões do Brasil, integram a cultura popular do país, em especial na região do sertão. É comum se lembrar de ouvir, ao menos uma vez, um familiar falar que levou para rezar o filho devido a uma doença.
As mulheres, na sua maioria, mesmo que homens exerçam ainda esta atividade, as benzedeiras utilizam saberes ancestrais delas acerca de plantas e ervas medicinais como tipo de acessório para rezas que elas fazem, ao reestabelecimento da saúde daqueles que as procuram.
Com ramo de plantas como alecrim, sálvia, manjericão e em especial a arruda, fazem sessões de orações com foco em cura de doentes, tocando sempre os ombros, costas, cabeça desse “paciente”, fazem o sinal da cruz pelo começo do ato. De fato, a maioria considera-se seguidora do catolicismo e cristã.
O que Diz a Igreja Católica sobre as Benzedeiras
Paulo Pacheco, que é teólogo e supervisor da Orientação Espiritual da Associação Evangelizar É Preciso, fala que a Igreja Católica, na realidade, não autoriza busca pelas rezadeiras, ou benzedeira, porque as mesmas prometem curas para os males todos da alma e do corpo, sem contar evocarem geralmente os “espíritos” que surgem de mais crenças, isso é contrário para fé da Igreja Católica.
Mais um agravante é que prática de rezadeiras termina pela exclusão de missão da Igreja, porque em comunidades cristãs há diáconos, padres, e indivíduos autorizados que podem ser procurados para os fiéis rezar, pelos filhos deles, pelos amigos e parentes deles, isso Padre Fernando Sampaio enfatiza.
Diz este religioso, “Levemos os nossos filhos para os nossos padres, para que eles os abençoem. Não procure fora da Igreja Católica aquilo que ela faz muito bem e faz parte da sua missão. A Igreja Católica não promove e nem incentiva a superstição. Você pode levar seu filho para benzer, sim, mas na Igreja Católica”.
Benzedeira Não Ligado com Magia
Em 2004, na matéria pela Folha de Londrina publicada, Monsenhor Bernard CarmelGafá explica que conferir bênção quer dizer, “interceder em nome de Deus pedindo um bem”. No entanto, ele fala que este abençoar não pode estar associado com qualquer tipo de magia, muito menos, a fé banalizar, e desejar atuar acima do poder de Deus.
Comentou esse sacerdote, “Não existe problema algum enquanto o benzimento estiver dentro da fé cristã, sem magia, sem buscar exercer poder sobre Deus. Qualquer pessoa que tem fé, porém, pode pedir a Deus”.
Em relação a algumas benzedeiras possuírem altares com santos da fé católica, e símbolos e imagens de mais crenças, no culto para sincretismo religioso, Bernard considera haver necessidade do respeito para fé da outra pessoa. Declarou para imprensa, “Não é porque uma pessoa acredita diferente que ela não tem Deus. Deus vê o coração e a fé e não os rótulos. Deus vê o coração e não a fachada”.
O benzimento com a benzedeira para a Igreja Católica se mostra legítimo e pode ser eficiente contanto que tenha prática segundo a vontade e ensinamentos divinos.
Benzer e Fé
Os fiéis na família católica são familiarizados com o termo benzer. Vários, certamente, já ouviram pais, tios, avós, utilizarem tal expressão, “vou benzer esta imagem de santo, vou pedir para benzer a casa”. O termo benzer possui na raiz o termo abençoar, que é geralmente mais utilizado atualmente pelas pessoas.
A palavra abençoar se mostra fundamental para os católicos, é suficiente perceber em Gênesis que o Senhor, após a criação do homem à imagem e semelhança Dele, como atitude inicial teve então de abençoar, Gênesis 1,28a, “Deus os abençoou”.
Portanto, a palavra benzer possui na própria raiz a primeira bênção do Senhor favorecendo o homem, e é possível dizer certamente, é inerente ao homem.
Não se pode imaginar a própria vida despojada da bênção de Deus, porque nela se encontra presente a vida do Criador. Está a bênção para alma humana, como o ar para a existência humana.
Na ausência doar estariam todos sufocados e iriam morrer, uma triste morte com sufocamento. De fato, não difere a necessidade da alma espiritual quando se fala da bênção, cada um seria como os que “vegetam”. Sustenta a bênção a relação do homem com Deus.
Benzedeira Católica Cobra para Rezar?
Não, a benzedeira católica não cobra para rezar. Por exemplo, Tia Rose possui a missão, há 18 anos. Na casa dela, que fica em Curitiba, bairro Água Verde, a quantidade de pessoas atendidas por dia, não se sabe.
Esta idosa não cobra valor por rezas e diz que o papel dela se resume apenas a interceder em favor daquele que necessita. Fala, “Eu não curo ninguém. Quem faz é Deus. Eu só rezo pela pessoa e peço que Jesus e Nossa Senhora façam o serviço”.
De acordo com ela, a “rasgadura”, ou distensão muscular, é a causa que mais leva os indivíduos à porta dela. Explica, “para curar é simples”, ao passo que costura trapinho de malha, ponto essencial para terapia.
Os versinhos na aplicação dos pontos no tecido, seguem de forma automática, “carne rendida, ossos quebrados, nervo exposto, extorsão de osso. Nas mãos de nosso mestre Jesus e de nossa mãe Maria Santíssima, que nossa mãe venha trazer a cura e bênção”. Então, repete 3 vezes, esta reza a cura promete até de jogador profissional de futebol.
Porém, afinal, e a origem desta função? Rose explica que a resposta se encontra no que ela denomina “missão divina”, de geração em geração, passada. Conta, “Minha sogra era benzedeira e ‘passou’ o ofício para mim. No começo, eu não sabia se conseguiria, mas tive um sonho, no qual Deus confirmou que era mesmo minha missão”.
A benzedeira, sem formação acadêmica, e sem diploma, se caracteriza especialista na identificação das mazelas da alma e do corpo, em que a cura, como ela explica, apenas pode pelos santos ser viabilizada.
Diz, “A pessoa chega aqui e não precisa falar muito. Eu sei pelo que tenho que pedir porque sinto no meu coração”.
A grande gratificação para a vovozinha pelo trabalho, não se encontra em reconhecimento e retorno financeiro, que não ocorre, porém, no saber do efeito que as palavras dela surtem em curar pessoas. Tia Rose fala, “É maravilhoso saber que estou ajudando tantas pessoas a alcançarem o alívio das dores e a proteção do mal”.
Diz outra benzedeira, Maria Nely Borges, “Nem sempre a ciência tem a solução para tudo. Já ajudei a curar muita gente que não conseguiu nada com os médicos”.
Após anos nesta tarefa e entendimento de causa suficiente, afirma acreditar que um dos problemas principais hoje da sociedade se resume a alimentação ruim. E pondera, “antigamente não tinha tanto veneno na comida. Hoje as pessoas consomem praticamente tudo com agrotóxicos e isso está acabando com todo mundo”.
Benzedeira Munidas com Sabedoria Antiga
A sabedoria da benzedeira une então as plantas medicinais, fé e orações. Trata-se da crença em tradição da cura através da fé e natureza. Vive Agda de Andrade, uma benzedeira, em casa onde plantas medicinais estão até pela calçada. Ela entende bem de planta, sendo famosa em Rebouças, Paraná, com tanto conhecimento.
Sempre recebe visita das pessoas que procuram cura. Buscam plantas medicinais em um momento, noutro é um benzimento. Agda, com raminho de arruda e terço na mão, segue a benzer aqueles que a procuram.
Existe outra espécie de benzimento, realizada com costura de pequenos pedaços de pano nas orações. É medido o comprimento da linha em parte machucada em relação ao corpo do indivíduo. Ela conta que a reza vai de fato recuperar dores musculares e contusões.
Explica, “Quando terminar, eu tenho que deixar pendurado, quando inteirar 3 vezes, eu jogo no fogo ou formigueira”. A utilização das plantas, Agda aprendeu do pai, porém, a benzer foi após ter os filhos, ela diz, “Comecei a ter as crianças e levar no benzedor e comecei a aprender”.
Assim, aprendeu que hoje benze até de longe. Agda afirma, “Deus sabe onde eles estão e o que eles precisam. Nós somos como um celular: nós mandamos a mensagem e Deus manda a resposta na hora. Nós terminamos a oração e de lá Ele já tá mandando a bênção que precisa. Não custa nada. Para mim veio de graça e de graça sairá”.
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Origem do Benzimento
Benzimento se caracteriza antigo costume e tem definição no dicionário. O termo benzer vem de bene dicere, do latim, que quer dizer, bem dizer. Fazer o bem e dizer bem de alguém.
A origem é explicada por João Baptista Borges Pereira, antropólogo, “No Brasil está desde o Descobrimento porque é uma herança do catolicismo português. Em Portugal, as mulheres ou são benzedoras ou são demoníacas. Pode fazer o bem ou o mal. Quanto mais a mulher envelhece, ela vai se tornando feiticeira e indesejável. Mas no Brasil, a benzedeira passa elementos sincréticos, misturados, com influências indígenas e africanas, ligada às influências portuguesas. Elas tinham uma preocupação grande de fazer o bem. As benzedeiras fundamentalmente são pessoas do bem”.
Benzedores do Paraná Contam com Carteirinha da Secretaria Municipal de Saúde
Os benzedores de São João do Triunfo, e de Rebouças, 2 municípios do Paraná, organizaram-se e atualmente até possuem carteirinha da Secretaria de Saúde. SelmiraKiller de 87 anos é benzedeira e cuida sozinha do quintal dela. Fica então próxima do passado, desde os 10 anos, trabalhadora rural.
Planta hortaliças no centro de canteiros, e ervas medicinais pela beirada. Selmira que é benzedeira requisitada tem cautela, diz, “Homem eu benzo só de longe. Mulher e criança eu benzo de perto, homem não”.
E comenta sobre os santos presentes no seu altar, Nossa Senhora Aparecida, São Bento, Menino Jesus, Nossa Senhora das Graças, monge João Maria. Fala que antigamente a fé era maior, “Antigamente era porque não tinha médico nada. Só Deus. Só Deus e fé nos santos nos protetores deles. Só remédio de horta, de mato”.
Foto de Ray Shrewsberry na Unsplash
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